Sobre Blogs e etc

domingo, setembro 25, 2005

Creative Commons

O abuso dos direitos autorais pode se transformar num grande problema para o futuro de uma Internet democrática.

O Creative Commons se preocupa com a liberdade da cultura, informação e conhecimento.

Dois pequenos vídeos (em flash na língua portuguesa) explicam a idéia que está por trás deste movimento:

1. Seja Criativo
2. Reticulum Rex

segunda-feira, setembro 19, 2005

Anos dourados da internet?

A mídia corporativa está perdendo um pouco de seu poder com a explosão de popularidade dos blogs. A credibilidade e a venda dos jornais diminui sistematicamente, como apontam diversas pesquisas ao redor do mundo. Muitos analistas de mídia sinalizam que mudanças grandes estão por vir nos próximos anos. A participação da população na produção de conteúdo e notícias em blogs e websites é tida como um fenômeno que pode favorecer a democracia e descentralizar o poder.

Mas será que estamos realmente em direção a este caminho? As grandes corporações de mídia e os governos não vão fazer nada para obstruir esse movimento que vem dando poder ao povo através da web?

Rafael Behr publicou no THE OBSERVER um artigo com uma análise um tanto quanto pessimista daquilo que está por vir nos próximos anos de internet.

Preparei abaixo uma versão reduzida do artigo, traduzida para o português. O original, completo em inglês, pode ser encontrado neste link.

ACESSO NEGADO

Quinze anos depois de Tim Berners-Lee criar uma maneira de ligar documentos entre si, constituindo uma grande teia – a web, vivemos os anos dourados da internet, um tempo de anarquia gloriosa onde a informação é livre para todos e possibilita que ricos e pobres bloguem suas opiniões para o mundo.

Atualmente os blogs ocupam um papel especial, representam a segunda geração de cidadãos na web. A primeira geração foi a dos geeks pioneiros que desenvolveram seus próprios sites nos anos 90. Diferentemente dos percussores, esta segunda onda não precisa de um know-how técnico nem conhecer linguagens de programação para publicar suas idéias na web. Utilizam um espaço digital pré-fabricado com software livre bastante fácil de operar.

Um novo blog é criado praticamente a cada 2 segundos. O número total é difícil de estimar por não haver consenso na sua definição, mas 15 milhões de blogs é um número aceitável. A cada dia aumenta o número de pessoas que deixam suas impressões, opiniões, críticas e conhecimentos na grande rede.

Numa época onde o capitalismo triunfa e o sucesso geralmente é medido pela acumulação de riquezas, é difícil conceber uma sociedade paralela estabelecida e auto-governada em princípios de confiança e posses em comum. Mas esta sociedade existe. A maior agregação de experiências humanas e conhecimentos já criados pertencem a todos e está disponível livremente.

Mas por quanto tempo? Uma estranha coalizão está lutando contra a nova cultura da liberdade digital. Governos incapazes de resistir a tecnologias que podem rastrear todos os nossos movimentos; corporações famintas pela audiência de 2 bilhões de olhos focados nas telas dos computadores; e os spammers entupindo a rede com lixo, invadindo computadores e espalhando mentiras.

‘A internet, primeira mídia muitos-para-muitos, tinha potencial para nos libertar da tirania da mídia centralizada e do consumismo. Eles pregam que somos apenas receptores daquilo que as grandes empresas, incluindo a grande mídia, desejam que compremos`, escreve Dan Gilmor, um escritor de San Francisco, em “We The Media: Grassroots Journalism by the People for the People”. ‘Mas o combate começou. Em todo lugar que olhamos, as forças de centralização estão encontrando formas de limitar os avanços que fizemos’.

Gilmor é um cronista da Citizem Media, movimento para transformar notícias e entretenimento de um caminho de mão única (nós produzimos, você consome) em uma conversação (todos fazemos, todos trocamos). Alguns exemplos iniciais são a wikipedia - a enciclopédia colaborativa, e o jornal Ohmynews, que é produzido por seus próprios leitores.

Mas o movimento é maior do que qualquer site. Grande o suficiente para botar medo nos empresários e políticos. Os governos foram lentos em apreciar as mudanças sociais causados pela tecnologia, mas rápidos para perceber sua potencial aplicação para exercer controle e invasão de privacidade.

Blogueiros do mundo todo já foram advertidos por regimes repressivos. A China sucessivamente restringe o acesso da internet e coloca limites no que milhões de usuários podem acessar. A tecnologia que possibilita aos governantes vigiar e-mails e rastrear qualquer clique do mouse na internet é muito sedutora para ser ignorada. É quase certo que a vigilância da web fará parte da legislação inglesa anti-terror ainda este ano.

Há também a grande mídia e corporações de entretenimento dos EUA. Eles estão irritados porque a audiência deles está sendo capturada por um exército de internautas editores. A grande mídia detém os direitos autorais de grande parte da cultura popular em língua inglesa, estão procurando tornar as leis de copyright ainda mais duras, alimentando um regime de repressão intelectual que barra a criatividade com ameaças de processos.

Mas para muitos a luta com a grande mídia e estúdios de Hollywood não é o maior problema. Vândalos, fraudadores e pervertidos também são um risco para a internet livre e democrática. Muitas famílias temem o que seus filhos podem encontrar na grande rede, como por exemplo, pornografia, pedofilia e propagação de idéias terroristas. Todas as experiências humanas estão na internet, incluindo o lado ruim. E é difícil de policiar a web, os criminosos se beneficiam de uma rede global sem claros limites da lei. Se um site ilegal é fechado, no outro dia ele ressurge em Moscow.

Mas deve-se partir da teoria de que a maioria das pessoas não é criminosa. Assim como o mundo, a grande rede não é de todo ruim.

Acontece que alguns proprietários da grande mídia estão tentando tirar proveito do lado sombrio da web para espalhar medo em relação ao conteúdo que não é publicado por empresas conhecidas. Com isso tentam guiar as pessoas para jardins fechados de conteúdo seguro (pago através de assinaturas), adequado para os padrões familiares, livres de criminosos e de material ofensivo e ilegal.

A grande meta é direcionar a energia que os blogueiros estão utilizando para criar sua própria mídia em um consumo de conteúdo pago, produzido pelas grandes corporações. A grande mídia quer sufocar a atuação das pessoas na web. A forma para alcançar isso é monopolizando os direitos autorais do material e ferramentas que os usuários costumam utilizar.

Noam Chomsky, lingüista e comentarista de mídia, concorda: ‘As grandes corporações estão concentrando muitos esforços para modelar a internet de forma que ela praticamente seja usada apenas para comércio e diversão. Aqueles que desejam utiliza-la para informação, organização política e outras atividades, passarão por tempos difíceis’.

Para ser justa ao capitalismo, a motivação pelo lucro criou ondas de inovação e crescimento. Quando o Google começou, prometeu ‘não fazer nenhum mal (do no evil)’. Quis organizar a informação do mundo e foi bom nisso. Todos tomaram conhecimento desta inovação maravilhosa. O Google nunca teve que anunciar.

Mas agora há um sentimento crescente de que o Google (com valor estimado em $50bn) cruzou a linha. O poder que tem sobre a maneira em que as pessoas fazem procuras na web, e os dados que pode juntar sobre cada usuário individual, estão começando a parecer menos com um projeto para organizar a informação do mundo e mais com uma maneira de possuí-la. Os geeks perderam seu encanto com o Google, dizem que ele se tornou mal (Google, they say, has turned evil).

A nossa geração é a última que lembrará do mundo analógico. Para a próxima geração de nativos digitais, a web será uma máquina de vendas.

Escuto os gurus da web, pessoas que pregam a liberdade cheias de entusiasmo com a nova sociedade digital do futuro. Temo que eles estejam errados. Mas este excesso de idealismo apenas prova que os anos dourados da internet estão, de fato, acontecendo neste exato momento.

domingo, setembro 11, 2005

As Teles te observarão

Este texto é uma resenha do seguinte artigo:
Location based services—new challenges for planning and public administration?
Futures, Volume 37, Issue 6, August 2005, Pages 547-561
Rein Ahas and Ülar Mark
http://dx.doi.org/10.1016/j.futures.2004.10.012


A telefonia celular vem apresentando um avanço contínuo. O desenvolvimento de novas tecnologias de telefonia móvel pode transformar o celular num comunicador pessoal, integrando telefone, computador e Internet. Será um dispositivo usado para mídia, trabalho e entretenimento.

Com as tecnologias disponíveis hoje, já é possível rastrear a posição e movimentação do proprietário destes aparelhos celulares com certa precisão. O método de posicionamento social - The Social Positioning Method (SPM) – usa as coordenadas de localização dos telefones móveis e a identificação da pessoa que o carrega para realizar estudos de comportamento social, observando padrões de comportamento de diferentes grupos de pessoas. Os resultados dos estudos podem ser utilizados para diversos fins, como por exemplo, planejamento e organização de cidades, estudos científicos, estudos de marketing, entre outros.

A tecnologia envolvida no SPM possibilita a indicação da localização e movimento de pessoas em tempo real. Usuários deste tipo de serviço podem acompanhar num mapa a localização de amigos e familiares. Além disso, podem se informar da quantidade de movimento em estradas, cinemas, shoppings, etc.

Políticos podem analisar o comportamento dos cidadãos com a tecnologia SPM, identificar seus hábitos e os deslocamentos que efetuam para melhor planejar as cidades.

Percebe-se que esta tecnologia pode ter forte impacto no mecanismo de toma de decisões políticas e nas formas de comunicação social. Entretanto, questões relacionadas com a privacidade, liberdade e o repúdio da sociedade em relação ao monitoramento de suas vidas são obstáculos que influenciarão o desenvolvimento e disseminação desta tecnologia entre o público.

O SPM já foi utilizado experimentalmente no planejamento de algumas cidades da Estônia. Pesquisadores do Institute of Geography of Tartu University acreditam que esta tecnologia tem potencial para ter um forte impacto positivo no planejamento e organização da sociedade no futuro.

A maior mudança causada pela disponibilidade de dados de SPM será na forma como as pessoas se comunicam e pensam. Antes de ir para algum lugar, uma pessoa poderá observar mapas ou bases de dados desse lugar, para obter uma idéia do espaço social - que tipo de pessoas estão no local (faixa etária, sexo, etc) ou estão se deslocando para lá?

Ao conhecermos melhor os padrões de movimento das pessoas e suas 'trilhas digitais', será também mais fácil estudar a comunicação social. Por exemplo, como as pessoas se comunicam, onde vão e o que vêem. O caso mais prático da aplicação deste campo está no marketing: de onde vieram e por onde passaram as pessoas que realizaram compras num determinado dia? Quantos clientes que efetuaram uma compra passaram de carro por um determinado outdoor?

Aplicações de SPM relacionadas com planejamento urbano já começaram. Inicialmente esta tecnologia será focada em quatro áreas: (1) uso de infra-estrutura para deslocamento entre centro da cidade e subúrbios; (2) análise temporal do uso do espaço urbano; (3) planejamento de transporte e infra-estrutura; e (4) marketing.

Algumas questões de ordem técnica para analisar a grande quantidade informações sobre a movimentação das pessoas numa cidade precisam ser resolvidas. Será necessário desenvolver métodos e softwares especiais para esta tarefa.

A precisão na localização de uma pessoa com a tecnologia atual pode ter um erro de até 1000 metros, mas o desenvolvimento de novos métodos, associando telefonia móvel com sistemas de satélites, reduz o erro para até 50 metros. No futuro, melhorias tecnológicas vão tornar esse erro de precisão tão pequeno que será desprezível.

Mas as questões mais delicadas no uso do SPM são relacionadas à vigilância e privacidade. Esta tecnologia é a realização de um antigo sonho dos ditadores e também cientistas – um mundo onde as pessoas carregam consigo microchips e são monitoradas em qualquer lugar.

O uso dos dados de movimentação e localização das pessoas não deverá ser usado sem o consentimento delas. Entretanto, há um longo caminho para discussão relacionados a legislação, ética e aceitação social do SPM antes dele se tornar um serviço comum.

domingo, setembro 04, 2005

Google te observa

Esses dias acessei um site meio esquisito (www.google-watch.org) que lançava uma porção de suspeitas em relação a empresa do Google. Num primeiro instante parecem inverdades, mas com um pouco de investigação dá a impressão de que tudo vai se encaixando e se confirmando, mesmo não havendo provas cabais.

O site google-watch.org levanta uma porção de considerações a respeito do uso da tecnologia pela Google, que além do site de buscas possui outros serviços, como os famosos Gmail e Orkut, e outros não tão conhecidos que são listados nesta página: http://www.google.com/intl/en/options/

Para o google-watch.org, o Google está invadindo a privacidade das pessoas, nos observa e nos investiga por meio de algumas práticas aparentemente inocentes, como por exemplo, oferecendo espaço praticamente ilimitado para e-mails.

Através do Gmail, o Google oferece mais espaço em disco do que outros sistemas de e-mail (pelo menos entre os mais conhecidos). Este espaço virtualmente infinito para as mensagens, em conjunto com a funcionalidade de busca, incentiva as pessoas a não apagarem nada do que recebem. Aliás, apagar mensagens é meio trabalhoso, o Gmail encoraja seus usuários a apenas arquivarem o que julgam desnecessário. Segundo o www.google-watch.org, "o Google admite que mesmo que se apague definitivamente uma mensagem, ela permanecerá nos seus servidores e será acessível internamente nas dependências da Google. O Google quer te conhecer melhor...".

Algo Bastante curioso também acontece ao se acessar o site de buscas do Google. Um cookie que expira somente em 2038 é gravado no disco rígido do computador com um número de identificação. É verdade que outros sites se inspiraram na Gigante da Informação e também passaram a adotar esta prática do cookie imortal, mas o Google foi o percussor. Por meio deste cookie, toda vez que uma pessoa faz uma pesquisa no Google, os servidores registram o número de identificação dessa pessoa, seu IP, data e hora, as palavras pesquisadas, e as configurações do navegador web.

Segundo o Google-watch.org, não há explicações sobre o motivo da retenção destas informações e o que se pretende fazer com elas. Quando o New York Times (28-11-2002) questionou isso a um dos fundadores do Google, não obteve resposta.

Através do Orkut o Google também tem acesso a um cadastro bastante recheado de informações dos seus usuários, pois nele as pessoas são levadas a deixar diversas informações desde o seu registro inicial, que vão crescendo a medida que o usuário passa a se relacionar com outras pessoas e a freqüentar e participar de comunidades.

Não fica difícil imaginar as possibilidades que o Google tem de cruzar estas informações que vem coletando sistematicamente de seus inocentes usuários. Fazer um cruzamento entre as conversas que temos no Gmail, com as pesquisas que fazemos várias vezes por dia no site de buscas, e com as informações daquilo que fazemos no Orkut é moleza. Isso pode se complementar ainda com mais dados se a pessoa estiver usando outros serviços do google, como o Google Desktop e Google Talk.

Mais ainda, pode comparar o que pesquisamos na internet com aquilo que as pessoas com quem mais trocamos e-mail ou nos relacionamos no Orkut estão pesquisando. Através desse processo de conhecer o que a maioria de nós busca na rede, pelo que nos interessamos, o que estamos visitando e o que discutimos nos e-mails e nas comunidades do Orkut, o Google pode conhecer alguns de nossos amigos melhor do que nós mesmos!

Acredito que o google ainda vai inventar um serviço bacaninha que, para utilizarmos será obrigatório o preenchimento de um campo com nosso endereço residencial. Aí eles poderão identificar no google earth exatamente onde moramos.

Não deve ser por acaso que um dos co-fundadores do Google tem a pesquisa de Data-Mining como sua maior diversão, conforme indica sua home page:
http://www-db.stanford.edu/~sergey/

Seus últimos trabalhos publicados:
-Extração de Padrões e Relações da World Wide Web (Extracting Patterns and Relations from the World Wide Web)
- Data Mining dinâmico: Uma Nova Arquitetura para Dados com Alta Dimensionalidade (Dynamic Data Mining: A New Architecture for Data with High Dimensionality).

Pra quem ainda acha o Google legalzinho, é interessante a leitura de uma recente reportagem do The New York Times, intitulada: "Google vira império do mal no Vale do Silício" disponível aqui:

Segundo esta reportagem, o Vale do Silício teme o tamanho e poder do Google, considera que a empresa está se descaracterizando e se distanciando de seus objetivos iniciais. Freqüentemente apresenta sinais de arrogância, destrata parceiros, assedia engenheiros de outras empresas e parece querer dominar tudo por onde passa.

" 'No passado, costumávamos ouvir sempre que a Microsoft era o império do mal', diz Brian Lent, presidente da Medio Systems, empresa iniciante de Seattle que trabalhava em buscas para telefones móveis. 'O Google é o novo império do mal, porque estão em posição tão poderosa em termos de controle. Tem um potencial de controle monopolista sobre o acesso à informação.'
'Gosto dos caras do Google, e os respeito', disse. 'Mas seu objetivo final, digamos, parece ser 'Google acima de tudo no céu e na Terra'. "